O que o caso da Americanas ensina sobre a importância de ter especialistas operando o backoffice
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- Autor: Marketing BHub
- Publicado em 17/01/2023
Na última quarta-feira (11), a Americanas soltou um fato relevante. Informando que havia detectado inconsistências contábeis na ordem de R$ 20 bilhões, apavorando todo o mercado financeiro.
O problema estava nos lançamentos contábeis redutores realizados em exercícios anteriores na conta de fornecedores, incluindo 2022. No fim de setembro do ano passado, essas inconsistências correspondiam a R$ 20 bilhões. Além disso, a varejista informou que existiam operações de financiamento de compras classificadas equivocadamente na conta de fornecedores.
Mais tarde, o ex-CEO da companhia, Sergio Rial, explicou em um pronunciamento mais detalhado sobre a natureza das inconsistências. Confirmando que se tratava do risco sacado.
Mas você deve estar se perguntando: o que é risco sacado?
Podemos aproveitar a explicação de Fernando Dal-Ri Murcia, professor da FEA/USP e diretor de pesquisas da Fipecafi, em entrevista ao Valor Investe:
“Em regra, quando uma empresa compra bens a prazo, ela se compromete a pagar esses fornecedores numa data futura e, quando quita esse compromisso, tira caixa do seu ativo e reduz a conta de fornecedores na mesma magnitude do passivo.
Às vezes, porém, o fornecedor não quer esperar o prazo integral para receber, que pode ser de 60, 90, 120 dias, e procura um banco para adiantar os recursos, com consentimento da empresa compradora que, a partir dali, fica com o compromisso de quitar a dívida com o banco, não mais com o fornecedor.
É nessa hora que surge o tal do ‘risco sacado’, porque a compradora costuma confirmar ao banco que a fornecedora tem aquele valor a receber.”
Em contrapartida, o banco possui como benefício a cobrança de uma taxa da parte vendedora por antecipar os recebimentos e cobra juros da parte compradora, caso realize a extensão dos prazos de pagamentos.
Essa operação é muito benéfica para empresas com margens apertadas e ciclo de recebimento mais lento, pois permite dar mais fôlego à empresa uma vez que ela possui mais prazo de pagamento. É importante avaliar as taxas de juros nessa operação. A depender do nível dessas taxas e da capacidade de pagamento da empresa, pode haver outras opções mais vantajosas no mercado.
Qual foi a motivação da Americanas?
Como o próprio Sergio Rial disse no pronunciamento, não é possível afirmar quais as motivações da varejista. O que é possível entender é que para qualquer empresa é muito melhor demonstrar esse saldo na conta de fornecedores do que demonstrá-la na sua estrutura de financiamento.
Vejo duas principais motivações:
Preocupação com as cláusulas de covenants
O reconhecimento dessas dívidas na estrutura de financiamento impacta diretamente no nível de endividamento. Com isso, poderiam acionar a cláusula de covenants de alguns financiamentos. As cláusulas de covenants são compromissos de contratos de empréstimos ou financiamentos que têm como objetivo proteger os interesses dos credores. Assim, caso sejam acionadas, os credores exigem a antecipação imediata da dívida que venceria no futuro.
Essa preocupação se comprovou tão relevante que, no dia 13 de janeiro, a Americanas obteve junto à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, uma medida de tutela de urgência cautelar contra o vencimento antecipado de dívidas. A decisão suspendeu a possibilidade de um bloqueio, sequestro ou penhora de bens da empresa e adiou a obrigação de pagar suas dívidas, gerando fôlego para a companhia.
Pressão por melhores resultados
Por se tratar de uma companhia aberta, espera-se que os administradores sejam cobrados por melhores resultados, o que inclui o lucro líquido.
Empresas do varejo são conhecidas por possuírem margens de lucro apertadas ou por gerarem prejuízo. Usando a Americanas como exemplo, notamos que nos primeiros nove meses de 2022 ela apresentou prejuízo de R$ 446 milhões. Já em 2021, apresentou lucro de R$ 544 milhões e margem líquida de 2,39%. Em 2020, teve um prejuízo de R$ 211 milhões.
Podemos concluir que as ausências da reclassificação das dívidas para a estrutura de financiamento e da apropriação dos juros implicam em um melhor resultado líquido para a empresa.
E o que acontece agora?
Muito se tem falado sobre os próximos passos deste caso. Conforme o ex-CEO da Americanas mencionou, será formado um comitê independente que, juntamente com os auditores independentes da PwC, empresa responsável pela auditoria de demonstrações financeiras, se aprofundará no tema e provavelmente solicitará a republicação dos documentos.
Além disso, a Bloomberg informou que já ocorrem conversas sobre um provável aumento de capital na ordem de R$ 6 bilhões, mas que as negociações continuam.
A companhia ainda pode solicitar recuperação judicial em até 30 dias, conforme concedido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ).
Por outro lado, os credores já começaram a se movimentar para defender os seus interesses. O BTG, um dos principais credores da companhia, recorreu à justiça e entrou com uma petição contra a liminar que deu fôlego, impedindo a cobrança das dívidas. A petição faz duras críticas aos acionistas controladores e classifica o episódio como “a maior fraude corporativa de que se tem notícia na história do país”.
Além disso, a Abradin, associação que reúne pequenos investidores de empresas de capital aberto, apresentou denúncia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pedindo que as apurações englobem a PwC.
Essa história ainda terá muitos desdobramentos. Só nos resta aguardar pelos novos episódios.
Como um especialista pode me ajudar a não passar por uma situação como essa?
A terceirização do backoffice traz muitos benefícios e uma empresa especialista, como é o caso da BHub, contribui de forma relevante para melhorar a governança corporativa do seu negócio. Por ser um parceiro independente e responsável técnico pelas informações contábeis da sua empresa. Ademais, a BHub tem autonomia para preparar as demonstrações financeiras de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil. Sendo assim, reforçando a qualidade desses números junto a investidores ou órgãos reguladores.
Além disso, a BHub possui profissionais qualificados de diversos segmentos, que podem ajudar desde a preparação do orçamento. Desse modo, passando pela avaliação dos impactos fiscais das suas operações até a geração de indicadores para auxiliar na tomada de decisão.
Nas reuniões com nossos especialistas, além de todo o compliance tributário, você consegue avaliar se operações de risco sacado ou duplicatas descontadas podem ou não fazer sentido para o seu negócio. É possível entender também se há outras oportunidades de financiamento para sua operação através de parceiros do nosso ecossistema.
Nossos profissionais ressaltam que existem formas de autofinanciar a sua operação, basicamente aplicando boas práticas de gestão de caixa para o seu negócio. Por exemplo: com a gestão do capital de giro, diminuindo ciclos de recebimentos e estendendo ciclos de pagamentos. Para isso, é fundamental realizar o acompanhamento de um fluxo de caixa na hora certa.
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Ítalo Borges – Business Architect da BHub
Com carreira desenvolvida na área contábil, Ítalo Borges atua como líder do departamento de Experiência do Cliente & Onboarding na BHub. Tem ampla experiência em reorganizações societárias, preparação e revisão de demonstrações financeiras de companhias abertas e fechadas. Antes da BHub, passou por EY, Marfrig e TC.